“Diego é lançado inadvertidamente em um mundo subterrâneo secreto, onde os vampiros, ferozes predadores, caçam a sua presa maior: os humanos.”
Kaori e Maya são duas vampiras famosas na literatura fantástica brasileira. Se há algo que os leitores podem dizer sobre essas personagem é que elas causam medo e… são extremamente sensuais!
A criadora dessas femme fatale é a paulistana Giulia Moon. Uma autora destacada quando o assunto é os Filhos da Noite que escreve o conto “O Dia da Caça” para “Coleção Sobrenatural: Vampiros”.
“Titia Giu”, como é conhecida pelos fãs, revela tudo o que sabe sobre os Mortos-Vivos:
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Vagner Abreu: Quais obras (literárias, filmes, quadrinhos, seriados de TV, música, etc) que mais lhe influenciam a escrever textos sobre terror, horror ou histórias de vampiros?
Giulia Moon: Desde pequena, eu inventava histórias. Usava os personagens de livros, desenhos animados, quadrinhos ou seriados de TV, e inventava enredos para eles – de um jeito que me agradassem. Costumava adormecer imaginando esses fanfics, que eram aventuras cheias de detalhes, muito visual.
Contribuía para isso o fato do meu pai ser desenhista, ele fazia cartazes para os cinemas. Naquela época, os cinemas anunciavam os filmes em cartaz em painéis gigantes nas suas fachadas, pintados à mão. Era isso que o meu pai fazia: pintava esses painéis, reproduzindo posters e fotos de filmes como 2001 – Uma odisseia no Espaço, os filmes deJames Bond, e muitos, muitos filmes japoneses de monstros e samurais.
Portanto, no meu dia-a-dia, era comum ver criaturas estranhas tomando forma no meu próprio quintal, através dos pincéis do meu pai. Logo comecei a desenhar também e, quando tinha uns nove ou dez anos, os meus desenhos haviam se transformando em mangás. Eu gostei da brincadeira, e passei a desenhar muitas aventuras de cavaleiros, detetives e criaturas sobrenaturais, que, às vezes, abandonava, inacabadas, para me dedicar a uma nova história. Isso costumava deixar os meus poucos leitores – amigos e familiares – furiosos!
O meu primeiro conto de verdade só surgiu quando eu já estava no colégio. Depois de ler “Histórias Extraordinárias”de [Edgar Allan] Poe, num volume do Círculo do Livro*, fiquei fascinada pela forma como o autor conduzia o leitor, criava o clima, descrevia o cenário, tudo isso com sensibilidade, eficiência e inteligência. O texto certeiro de Poe despertou a minha paixão pela palavra escrita, e escrevi o meu primeiro conto de horror chamado “Eu matei”. Era sobre um livro amaldiçoado, uma ideia interessante que pretendo um dia retomar.
Depois dessa primeira experiência, continuei a escrever contos esporadicamente, mas não chegava a me empenhar muito nessa atividade. Havia parado de desenhar mangás, pois tinha começado a Faculdade de Comunicações, e as minhas histórias ficaram esquecidas durante longos anos.
Formei-me em Publicidade e Propaganda e logo comecei a trabalhar como diretora de arte. Nesse meio-tempo, nunca deixei de ler, e o fazia de modo frenético, devorando muitos livros a cada mês. Continuava a gostar de fantasia, mas passei a ler muito FC, policiais e terror. Então, no início do ano 2000, perdido nas prateleiras das estantes de uma livraria na Avenida Paulista, encontrei o livro que ia me dar um segundo clic: O Vampiro Lestat.
Fiquei alucinada pelos vampiros belos, amorais e complexos de Anne Rice, e comprei todos os livros das Crônicas Vampirescas da autora, tornando-me sua fã de carteirinha. Foi por causa dos livros de Anne Rice que comecei a escrever as minhas primeiras histórias de vampiros. Publicava-os num grupo do Yahoo, a Tinta Rubra, composto por escritores amadores, fãs de histórias de vampiros. Foi lá que descobri que os meus contos faziam sucesso e resolvi investir na carreira de escritora. Até hoje, a maior parte da minha produção consiste em romances e contos de vampiros. Afastei-me, com o decorrer dos anos, do estilo da Anne Rice, procurando encontrar uma escrita própria, mas, com certeza, ela foi a minha grande influência no início de carreira.
Nota do editor: Círculo do Livro era um sistema de venda de livros muito comum no Brasil nos anos 1970 até meados de 1980. Somente sócios convidados podiam participar do círculo.
Vagner: Para você, quais elementos não podem faltar em uma história de vampiro?
Giulia: Para mim, uma boa história de vampiros tem que ter um clima de história de vampiros. Não importa se o cenário é um castelo na Transilvânia ou a praia de Copacabana. Se o vampiro veste uma capa ou jeans. Se usa uma espada ou um laptop.
O vampiro é uma criatura feroz que se alimenta do sangue humano, e, por isso mesmo, nos inspira medo e repulsa. Mas, ao mesmo tempo, é um sedutor que nos fascina e atrai, num jogo sádico de predador que brinca com a sua presa antes de consumi-la. Esse jogo de vampiros pode vir acompanhado de violência, sexo e calafrios. Ou não.
Pode ser até uma história de humor negro. Mas, para ser uma boa história de vampiros, deve haver o jogo de vampiros. O clima. A sedução acompanhada pelo medo.
Vagner: Faça uma análise do atual leitor brasileiro: Por que você acredita que o público pode se interessar por contos de vampiros?
Giulia: Não só no Brasil, mas no mundo todo, os vampiros sempre foram personagens populares. De tempos em tempos, eles voltam à moda, viram febre entre os amantes do horror. Foi assim com o livro Drácula, com os filmes da Hammer, com os vampiros de Anne Rice, com a série Crepúsculo e os seriados de TV. Mudando de cara, de cenários e de comportamento, os vampiros são camaleões que se adaptam ao seu tempo e lugar, sempre renascendo para de novo se consolidarem como os vilões mais populares da cultura pop.
O sucesso de livros, filmes e seriados de vampiros lá fora repete-se também por aqui. E não apenas de sanguessugas estrangeiros. Em meados dos anos 60, surgiram as aventuras em quadrinhos do conde Drácula desenhadas por Nico Rosso. Já tivemos uma vampira sensual, Mirza, em HQ desenhada por Eugênio Colonnese. No cinema, Ivan Cardoso, com roteiro de R. F. Lucchetti, levou às telas o seu filme As Sete Vampiras, um clássico do terrir nacional.
De tempos em tempos surgem novos personagens vampiros, como o Zé Vampir, personagem de Maurício de Souza, e Bento Carneiro, criado pelo humorista Chico Anísio. Duas novelas, Vamp e O Beijo do Vampiro, já foram levadas ao ar pela Rede Globo. Os livros de André Vianco são campeões de vendas.
Por tudo isso, acho que dá para dizer que a relação entre o brasileiro e os vampiros vai muito bem, obrigada. E, se depender de nós, autores, vai continuar cada vez melhor!
Vagner: Para você quais alegorias ou metáforas os sanguessugas podem simbolizar para os leitores modernos?
Giulia: Acho que a forma como a expressão “vampiro” tem sido usada pela mídia atual dá uma pista bem clara: o vampiro é aquele que se aproxima de você de forma sorrateira, muitas vezes com simpatia e sedução, para dominá-lo e depois lhe tirar tudo, seja os bens, a honra, a moral, a saúde.
É aquele negociador predador, que extermina o parceiro, pois não sabe quando parar. Tanto pessoas, como empresas, ou mesmo nações, podem muito bem usar a carapuça – ou a capa – do vampiro no mundo atual.
Vagner: Segundo o seu ponto de vista, quais povos ou nações (da antiguidade ou da era moderna) que mais contribuíram para a mitologia vampiresca e quais são os que mais lhe servem como referencial?
Giulia: O mito tem uma longa trajetória, e muitas nações tiveram um papel importante em momentos diferentes da história dos vampiros. As raízes do mito vêm do início do século XVIII, na Europa oriental, nas lendas de aldeia, nas histórias de mortos que retornam do túmulo para vampirizar seus familiares.
Essas histórias, popularizadas pelos relatos dos investigadores nomeados para apurar a veracidade dos fenômenos, transformaram o vampiro num mito popular. A palavra vampir é uma palavra sérvia. Vem dessa época a crença de que, para matar um vampiro, é preciso lhe enfiar uma estaca no peito. Na verdade, a população, impressionada com os boatos de vampirismo, pregava os cadáveres nos caixões para que não pudessem deixar a tumba.
O vampiro na literatura surgiu em meados do século XVIII, na poesia alemã. Mas os ingleses tiveram grande influência na formação do vampiro como personagem, pois o primeiro conto de vampiros, “The Vampire”, nasceu da pena de um médico inglês, John Polidori, em 1816, e o maior clássico da literatura vampiresca,“Drácula”, foi escrito pelo inglês Bram Stoker em 1897.
No século XX, o cinema tornou-se a grande mídia de popularização dos vampiros, destacando-se o trabalho dos alemães F. W. Murnau no “Nosferatu” e Fritz Langno “M – O vampiro de Disseldorf”; os filmes da produtora inglesa Hammer; os sucessos americanos como “A Hora do Espanto”, “Garotos Perdidos” e“Drácula de Bram Stoker”; e o inglês “Entrevista Com o Vampiro”. O cinema contribuiu bastante para criar a figura do vampiro moderno.
No século XX, também, novos clássicos da literatura trouxeram novas facetas ao vampiro. “Entrevista Com o Vampiro”, de Anne Rice, “A Hora do Vampiro”, de Stephen King, “Fome de Viver”, de Whitley Strieber, são alguns exemplos.
Nos meus livros, eu utilizo o vampiro clássico, aquele que se alimenta exclusivamente de sangue e só morre se lhe cortarem a cabeça ou for exposto à luz solar. Basicamente, utilizo as características dos vampiros de Anne Rice, com uma grande diferença: os meus fazem sexo, como os humanos. E com os humanos. Na verdade, os meus vampiros são bastante sensuais, a minha personagem mais conhecida, a japonesa Kaori, é uma garota de programa que suga o sangue dos clientes como pagamento.
Vagner: Agora que terminaram praticamente todas as séries de TV, filmes e livros sobre vampiros afeminados que só…“mordem pescoço” depois do casamento. Como você acredita que será a próxima geração de histórias sobre vampiros? É possível haver um resgate daquele monstro sinistro vitoriano?
Giulia: Neste momento, existe por aqui certo fastio por um tipo específico de vampiros, os sanguessugas light, românticos e bem comportados. Constatei isso nas conversas que tive com os leitores nos eventos como a Bienal do Livro e festivais literários pelo Brasil afora. Os verdadeiros amantes de vampiros clamam por histórias com predadores clássicos, cruéis e perigosos. Desejam com ardor que esses personagens de passado tão ilustre retomem o caminho original, voltando a aterrorizar os humanos com os seus caninos sedentos de sangue.
Existe essa demanda por parte desse público mais seleto. E o sucesso de séries como True Blood, por exemplo, já mostrou que existe um público enorme, que aprecia histórias mais violentas e picantes de vampiros. Acredito que existe lugar, sim, para a volta do vampiro clássico, talvez sem a pompa e a pose do vampiro vitoriano, mas com a mesma ferocidade e poder.
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Crédito da Entrevista: Vagner Abreu – Assessor de Comunicação.