Macelo Del Debbio é um nome conhecido primeiramente por quem jogou RPG nos anos 1990. Ele é o autor de Arkanun, Trevas, Vampiros Mitológicos e demais jogos da editora Daemon. Ele também colaborava com a saudosa revista Dragão Brasil, cujos leitores ainda lembram com carinho.
O escritor também é conhecido como um dos maiores pesquisadores sobre Ordens Iniciáticas, Oráculos e Ocultismo no Brasil. É criador do site Teoria da Conspiração, maior portal sobre magia do país. Ele é responsável por compilar diversos os mitos do mundo no livroEnciclopédia Mitológica, maior compendium sobre o gênero no Brasil.
Para quem está chegando agora, Marcelo (ou MDD), já tem experiência em literatura vampiresca: escreveu o romance Vampiro – A Principia Discórdia, baseado no cenário de RPG Trevas. Junto com Parsival, MDD concedeu essa entrevista exclusiva sobre os mortos-vivos para o lançamento da Coleção Sobrenatural: Vampiros da Avec editora.
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Vagner: Quais obras (literárias, filmes, quadrinhos, seriados de TV, música, etc) que mais lhe influenciam a escrever textos sobre terror, horror ou histórias de vampiros?
Marcelo Del Debbio: Acredito que primeiramente foi o próprio romance “Drácula”, que li quando criança. Em seguida, os contos de Clive Barker e H.P. Lovecraft, bem como o filme Entrevista com o Vampiro (não cheguei a ler o livro) e a linha de RPGs da White Wolf chamada Vampire, the Masquerade, primeira edição.
Minha visão pessoal dos Vampiros como parasitas e sanguessugas vêm do contato com as entidades astrais reais que encontramos na Umbanda na forma de obsessores e entendo que mesmo a versão romanceada do mito do vampiro possui um fundo de verdade mediúnico, apenas passando a descrição destas entidades do plano astral para uma representação física.
Vagner: Para você, quais elementos não podem faltar em uma história de vampiro?
Marcelo: Não pode faltar a sensação claustrofóbica de estar sempre acuado na escuridão, isolado do convívio dos outros humanos, mas ao mesmo tempo, estar acima deles intelectual e fisicamente. Seres eternos, mas que perderam toda a sua majestade para a ciência e hoje precisam viver literalmente nas sombras e à margem da sociedade. A sensação claustrofóbica de estar em uma cultura estagnada e estratificada, pois um ser eterno não precisa de discípulos, mas sim de escravos, já que não pretende se “aposentar” e vai se tornando cada vez mais poderosa com o passar do tempo.
O universo interno dos vampiros se torna uma imensa teia de aranha onde não há mobilidade para os neófitos, presos entre a ciência que os dissecará e os anciões que o devorarão.
Vagner: Faça uma análise do atual leitor do Brasil: Por que você acredita que o público brasileiro possa se interessar por contos de vampiros?
Marcelo: Em um país onde convivemos com vampiros reais de dinheiro envoltos em esquemas de corrupção desumanos, a idéia de vampiros na literatura parece um pouco afastada de nossa realidade, a menos que se consiga costurar bem estes dois cenários, um vampiro da maneira como descrevi acima ficaria isolado em um purgatório totalmente à parte da realidade nacional e não faria parte do cotidiano do leitor brasileiro de classe média.
Vagner: Para você quais alegorias ou metáforas os sanguessugas podem simbolizar para os leitores modernos?
Marcelo: Os vampiros representam todos aqueles que vivem às margens da lei, sugando e se aproveitando das fraquezas humanas para prosperar, entrelaçados na hipocrisia de ostentar uma casca lustrosa, mas tendo em seu interior um fruto apodrecido.
Vagner: Segundo o seu ponto de vista, quais povos ou nações (da antiguidade ou da era moderna) que mais contribuíram para a mitologia vampiresca e quais são os que mais lhe servem como referencial?
Marcelo: O mito romano dos Strigoi é um dos meus favoritos. Dele descendem os nosferatu romenos e todo o vampiro hermético dos contos de Bran Stoker, síntese do vampiro espiritual e energético retratado pela Golden Dawn*.
- Nota do editor: Golden Dawn ou a Ordem Hermética da Aurora Dourada foi uma sociedade iniciática e mística surgida na Inglaterra em 1888 que reuniu diversos ocultistas, rosacruzes e maçons. O famoso místico Alester Crowley foi membro da Golden Dawn e seus ensinamentos podem ser encontrados em sociedades iniciáticas ainda hoje. Golden Dawn é talvez a sociedade mais influente.
Vagner: Agora que terminaram praticamente todas as séries de TV, filmes e livros sobre vampiros afeminados que só …“mordem pescoço” depois do casamento. Como você acredita que será a próxima geração de histórias sobre vampiros? É possível haver um resgate daquele monstro sinistro vitoriano?
Marcelo: Acredito que o próximo ciclo retratará os vampiros como seres brutais e sobreviventes, mais sombrios e violentos que farão qualquer coisa para continuarem sua existência, diante de um mundo no qual não há mais espaço para seres mitológicos.
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Não somente uma das figuras mais presentes na literatura e no cinema. O vampiro também faz referências ao Espiritismo, Umbanda e Ordens Iniciáticas. Como viram nessa entrevista, Marcelo Del Debbio tem muita informação a acrescentar a literatura vampiresca.
Por isso, confira seu conto Percival na Coleção Sobrenatural: Vampiros da AVEC editora. E-book a venda na Amazon.
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Crédito da Entrevista: Vagner Abreu, Assessor de Comunicação.