Nascida no Maranhão, Nazarethe Fonseca, é autora da saga de cinco livros chamada Alma e Sangue. Ela também escreveu contos publicados em diversas coleções brasileiras e é apaixonada pelo tema a que se dedica.
Olho por Olho é sua colaboração para a Coleção Sobrenatural: Vampiros daAvec Editora. Atualmente vive no Rio Grande do Norte, de onde atualiza o seu blog e concedeu essa entrevista exclusiva para o lançamento dessa antologia do terror.
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Vagner Abreu: Quais obras que mais lhe influenciam a escrever textos sobre terror, horror ou histórias de vampiros?
Nazarethe Fonseca: Posso dizer que bebi de todas as fontes. A primeira foi o cinema, ao ver Drácula de 1979 compreendi o charme dessa criatura. Depois vieram as revistas em quadrinhos, ou HQs. A revista Cripta era uma das que lia com bastante frequência.
As historias estavam cheias de criaturas sobrenaturais, maldições. Os contos de fadas não tiveram muita influência na minha veia criativa. Talvez somente uma lei dos contos de fadas tenha permanecido a de que o bem sempre deve prevalecer. Junte isso à música, a arte, a literatura e aos seriados de TV e teremos uma parte do que me inspira.
Vagner: Para você, quais elementos não podem faltar em uma história de vampiro?
Nazarethe: Nos últimos anos assistimos o vampiro passar por diversas mudanças e jamais ser esquecido. Algo que prova a imortalidade do tema. O livro Drácula, de Bram Stocker, reuniu todas as características de um monstro, que motivou diversos livros.
Mas a curiosidade sobre o vampiro não ficava restrita a salões literários, ela se tornou algo real quando da Europa Oriental chegavam noticias de um surto de vampirismo. Verdade ou não a igreja católica, na pessoa do acadêmico católico romano padre Dom Augustin Calmet, passou seis anos investigando casos de vampirismo.
Retirar as características do mito é ir contra tudo que foi escrito e documentado é cometer alguns erros. O vampiro é um tema imortal e sedutor justamente por suas “qualidades sombrias”.
Vagner: Faça uma análise do atual leitor do Brasil: Por que você acredita que o público brasileiro possa se interessar por contos de vampiros?
Nazarethe: O leitor e o escritor brasileiro estão em formação. Estou a pouco mais de doze anos no mercado e já enfrentei toda sorte de preconceitos relativos ao vampirismo e até mesmo a outros gêneros.
As editoras, e grande parte das pessoas, que analisam o trabalho dos escritores brasileiros têm preconceitos. A maioria acredita que não existe um escritor capaz de chegar ao mesmo patamar de um escritor estrangeiro. Algo que por si só é ridículo. Temos vários exemplos de bons escritores que vendem seus livros em vários países e se destacaram.
O leitor segue esse mesmo pensamento. Autor nacional não presta. Claro, como toda regra existe exceções. Não vou citá-las, mas tem muita coisa ruim sendo editada.
Ficou mais fácil ser escritor, as editoras de demanda estão ai para provar. O leitor é a ponta final de todo o processo e muitas vezes deixam de comprar um livro nacional justamente por ter tido uma experiência ruim. Algum comum em qualquer lugar do mundo. Já li livros estrangeiros que jamais lerei outra vez.
O leitor no Brasil, salvo raras exceções, tem um histórico de leituras capaz de fazê-lo compreender estilos, gêneros. As blogueiras que o digam, conheço muitas de grande conhecimento literário capazes de fazer excelentes resenhas baseadas em um julgamento lucido sobre o livro como um todo. Não somos mais uma nação tupiniquim, somos uns pais onde os livros não podem ser negociados por um preço mais acessível. O leitor Brasileiro até quer ler, mas muitas vezes não tem dinheiro para comprar livros.
Vagner: Para você quais alegorias ou metáforas os sanguessugas podem simbolizar para os leitores modernos?
Nazarethe: Minha opinião vai parecer “diferente”, mas não gosto de ver o vampiro como uma alegoria, uma metáfora para nenhum tema.
Algo que considero um dos ingredientes que o fazem tão sedutor, o vampiro se mostrar sem retoque um predador e com características muitas vezes invejadas por aqueles que o admiram.
Sensualidade, imortalidade, juventude eterna, nenhum remorso, e acima de tudo, o poder. Ele é a personificação ideal de poder. Sem limites, só o poder bruto, selvagem sobre si e os demais. Está tudo lá, alimentado pelo sangue e o desejo.
Vagner: Segundo o seu ponto de vista, quais povos ou nações (da antiguidade ou da era moderna) que mais contribuíram para a mitologia vampiresca e quais são os que mais lhe servem como referencial?
Nazarethe: É difícil citar um povo ou nação quando a relatos de vampirismo em todo o mundo. O vampiro está presente em todas as culturas e até mesmo em algumas religiões pagãs, que utilizavam o sangue como fonte de poder.
[Bram] Stocker criou a aura do homem misterioso, nobre, vindo da Europa Oriental, isso era extremamente sedutor.
Mas posso deixar também o traço da cultura egípcia, a ocidental com suas superstições e toda a carga do catolicismo que tenta conter o vampiro com o uso de símbolos cristãos.
O referencial é a luta constante do bem contra o mal, aquilo que não é aceito socialmente. A rebeldia de uma criatura que troca o dia pela noite por si só já quebra os padrões nos quais as sociedades têm como certo. As sombras sempre nos fascinaram tanto quanto a luz. Isso é quase um debate filosófico.
Vagner: Agora que terminaram praticamente todas as séries de TV, filmes e livros sobre vampiros afeminados que só …“mordem pescoço” depois do casamento. Como você acredita que será a próxima geração de histórias sobre vampiros? É possível haver um resgate daquele monstro sinistro vitoriano?
Nazarethe: É estranho e ao mesmo tempo previsível. Mas por trás desse vampiro politicamente correto existiam valores deploráveis como o machismo, a violência doméstica, pais alienados, uma jovem inocente e vulnerável, que entrou em depressão, que tentou suicídio por não se enquadrar no mundo do seu suposto “amor eterno”.
Tudo isso e até mais pode ser visto nessa suavização do predador. Os vampiros de hoje estão longe dos valores do monstro vitoriano. Nada existe para ser resgatado, o que existiu foi uma bolha histérica de consumo a um produto deturpado. O verdadeiro vampiro permanece sendo uma criatura sensual, politicamente incorreta e pretadoria.
Estou confiante que o filme Drácula, Uma Historia Nunca Contada, do diretor Gary Shore, traga as telas a verdadeira essência do vampirismo. Afinal, vampiros não são exatamente príncipes encantados, mocinhos. Eles podem ate ser príncipes, mas extremamente sombrios.
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Percebeu a opinião diferenciada de Nazarethe Fonseca sobre os vampiros? Seu conto “Olho por Olho” promete crime e investigação em combinação com as lendas sobre esses príncipes imortais.
Como outros nove autores nacionais, Nazarethe colaborou para a Coleção Sobrenatural: Vampiros da Avec editora que está renovando o mito clássico do vampiro. E ele está apavorante como nunca.
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