Colonização é um misterioso conto do autor Carlos Bacci que combina estórias no estilo Arquivo X com vampiros. Mas uma coisa importante nunca falta… horror!
Esse revisor free lancer e graduado em Economia e Letras pela Universidade de São Paulo concedeu uma entrevista para o lançamento do livro Coleção Sobrenatural: Vampiros da Avec Editora. Fiquem agora com esse bate-papo.
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Vagner Abreu: Quais obras (literárias, filmes, quadrinhos, seriados de TV, música, etc) que mais lhe influenciam a escrever textos sobre terror, horror ou histórias de vampiros?
Carlos Bacci: Esta é minha primeira incursão no subgênero horror. O “sub” ao lado não tem, claro, nada de pejorativo, é apenas uma forma de incluí-lo em um conjunto maior, o gênero fantástico. É este o campo em que gosto de escrever.
Depois de alguns anos, incorrendo em uma espécie de visão geral da minha “obra” (as aspas são para relativizar o tamanho dela…) notei que há um tema que a permeia: o “outro lado” das coisas, o que subjaz, o lado B. E o que é o vampiro senão o alter ego escuro do Homem Bom de Rousseau*, a noite em relação ao dia, a visão do Outro?!
- Nota do editor: Jean-Jaques Rousseau é um dos principais filósofo do iluminismo. Sua filosofia tem como essência a crença de que o homem nasce inclinado naturalmente para a bondade.
Para não fugir à pergunta, cito Edgar Allan Poe, cujo conto O Barril de Alcantilado (fantástico, nas duas acepções do termo) foi, inclusive, uma das obras que selecionei para realizar meu trabalho de conclusão do curso de Letras que, vejam só que “coincidência”, tinha o título O Fantástico Na Fronteira Entre o Humano e o Animal.
Já quanto ao start para este meu primeiro conto de vampiro, deveu-se a um muito agradável bate papo com o Duda Falcão** sobre literatura fantástica em uma não menos agradável tarde ensolarada de um churrasco gaúcho de aniversário de um amigo em comum.
- ** Nota do Editor: Duda é um escritor portoalegrense que colaborou com a Coleção Sobrenatural: Vampiros escrevendo um conto e organizando a antologia.
Vagner: Para você, quais elementos não podem faltar em uma história de vampiro?
Carlos: O padrão utilizado atualmente, misturando aventura e romantismo – este em um estilo misto drama/água com açúcar – obviamente é vitorioso em termos de sucesso, mas talvez isso só funcione em romances. Em um conto curto não creio que seja adequado. Prefiro que o texto forme imagens mentais no leitor que deem ideia de um clima entre o estranho e o soturno, no qual até mesmo a brutalidade seja mais intelectual que explícita.
Quanto aos personagens, não é necessário que sejam tão antagônicos assim (mas podem sê-lo, lógico). A opção vai depender da estória em si. Sarcasmo e carisma também caem muito bem.
Em tempo: são preferências pessoais, mas nada impede que textos com elementos diferentes sejam muito bons de ler.
Vagner: Faça uma análise do atual leitor do Brasil: Por que você acredita que o público brasileiro possa se interessar por contos de vampiros?
Carlos: No mundo inteiro (Brasil incluído), como demonstra a penetração dos livros da série Twilight (a Saga Crepúsculo), há um imenso público jovem interessado no tema. Por que não haveriam, guardadas as devidas proporções, de se interessarem em contos sobre vampiros?
O brasileiro aprecia o estranho, o sobrenatural, seja no drama, seja na comédia. Quem não se lembra das estórias sobre o chupa-cabra (no drama) ou do Vampiro Brasileiro, personagem de Chico Anísio (na comédia). Esse público, agora maduro, e que na época jogava RPG envolvendo vampiros, certamente não perdeu a paixão pelo tema.
Vagner: Para você quais alegorias ou metáforas os sanguessugas podem simbolizar para os leitores modernos?
Carlos: Mitos e lendas são tão antigos como a Humanidade. Em termos simples, sua raiz está nas tentativas, muitas vezes vãs, de explicação causal do ambiente e dos fatos; e em função das muitas perguntas sem respostas imediatas, recorreu-se ao fantástico, à imaginação. Alegorias e metáforas encarregaram-se, então, de fornecer “explicações”.
Vampiros enquadram-se aí. Desde sempre o mito do vampiro é uma metáfora da dualidade do Homem: instinto e razão. A lei da sobrevivência versus limites morais, um dos dilemas fundamentais, está representado no vampiro (pelo menos o tradicional…): um ser cuja sobrevivência depende da ingestão de um único alimento (o sangue humano, naturalmente) e que não tem impeditivos morais para obtê-lo matando sua presa.
No mundo moderno, como não pensar no vampiro como uma metáfora sobre a maioria dos políticos, banqueiros, grandes empresários, policiais, figuras tidas no imaginário popular brasileiro como verdadeiras “sanguessugas do povo”, uma expressão de uso generalizado que é típica de estórias sobre vampiros?
Vagner: Segundo o seu ponto de vista, quais povos ou nações (da antiguidade ou da era moderna) que mais contribuíram para a mitologia vampiresca e quais são os que mais lhe servem como referencial?
Carlos: A origem do mito, em uma forma mais geral, parece estar na antiguidade (Egito), mas a concepção atual é bem mais recente, e costuma ser vinculada a lendas de países da Europa Central (Romênia, Hungria).
Meu referencial é o famoso Drácula de Bram Stoker. E, de certo modo, o vampiro magistral de A Hora do Espanto, o original, de 1985. Há um remake filmado em 2011, ao qual não assisti por medo de perder o encanto…
Vagner: Agora que terminaram praticamente todas as séries de TV, filmes e livros sobre vampiros afeminados que só …“mordem pescoço” depois do casamento. Como você acredita que será a próxima geração de histórias sobre vampiros? É possível haver um resgate daquele monstro sinistro vitoriano?
Carlos: Acredito (ou será que apenas espero por gosto pessoal?), que as estórias de vampiros de maior apelo popular voltarão ao estilo anterior, mais lúgubre, mas acrescentando um tom policial com toques de aventura. O cinema, como sempre, antecipa tendências: Anjos da Noite, uma série de filmes estrelados por Kate Beckinsale, é um bom exemplo dessa mistura.
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Carlos Bacci é uma vasta referência quando o tema é “vampiros”. Assim como ele, mais nove autores brasileiros apresentam a literatura fantástica brasileira, as suas visões sobre os mortos-vivos.
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Crédito da Entrevista: Vagner Abreu, Assessor de Comunicação.